Doom 3

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Revolução. Essa é a palavra que me vem à cabeça automaticamente quando penso na série Doom, criada há 11 anos atrás pela ID Software. É verdade que o primeiro jogo não foi pioneiro no gênero FPS, antes dele, tivemos o excelente Castle of Wolfenstein 3D e suas continuações, além de alguns jogos que se focavam mais no gênero “labirinto sem inimigos”. Mas foi realmente com Doom que o gênero começou a ganhar forma e os programadores puderam usar e abusar da criatividade para criar elementos novos (como o multiplayer e os combates em rede), melhorar as texturas, as animações, além dos chefes gigantescos e assustadores. Aliás, falando em assustador, um dos grandes trunfos da série Doom, sempre foi a sua ambientação perfeita, composta por locais escuros e sinistros, inimigos assustadores e um belíssimo trabalho sonoro que envolvia os jogadores e prendia a atenção de todos que queriam se aventurar pela base marciana infestada por demônios.

Quando Doom 3 foi anunciado pela mesma ID, fiquei com uma grande expectativa em saber se o jogo honraria seus predecessores, afinal, fazem exatos 10 anos que a série sumiu do mapa com o excelente Doom II: Hell on Earth de 1994 (não estou contando o Final Doom, na verdade um medley dos dois primeiros jogos, lançado em 1996). Após um atraso de quase 6 meses, devido à temível pirataria, finalmente consegui colocar as mãos em uma das grandes promessas para este ano juntamente com Half-Life 2 (que será lançado em alguns meses). Mas e agora? Será que Doom 3 correspondeu às expectativas e ao peso da série?

Bom, para não prolongar o suspense e deixar os leitores ansiosos, já adianto que sim, o jogo correspondeu às minhas expectativas e honrou o nome que leva, apesar de alguns defeitos que comentarei nos próximos parágrafos. A história de Doom 3, ao invés de tentar avançar um pouco na mitologia já criada pelos dois episódios anteriores, prefere recontar o primeiro capítulo, obviamente, com muito mais detalhes e surpresas que complementam o enredo. Basicamente, estamos no futuro e você é um soldado (sem nome – característica comum na série para que o jogador crie uma maior identificação com o personagem) chamado para trabalhar em uma base de pesquisas no planeta Marte. Ao chegar, você percebe que as coisas não são exatamente o que imaginava pois os cientistas locais brincaram com o que não deviam, alguns artefatos misteriosos, e abriram um portal para o inferno atraindo todos os tipos de demônios para o local. Para piorar, muitos dos trabalhadores desta base, após o massacre, acabaram convertidos em zumbis. E isso vale para os seus colegas soldados também.

Ok, o roteiro não é nenhum show de criatividade, mas pense que essa história apareceu bem antes de jogos como Half Life, Unreal ou Blood e agora está sendo recontada com maiores possibilidades. Você vai, por exemplo, saber o que levou os cientistas de Marte a atingirem o inferno, literalmente falando, em suas pesquisas, coisa que não acontecia nos jogos anteriores onde você simplesmente era jogado no meio da ação sem maiores preocupações.

A história é bem explorada através de um computador de bolso que você tem chamado PDA (acessado com a tecla TAB). Este equipamento permite que você tenha acesso à senha dos outros funcionários e cientistas, ler os seus e-mails e conhecer um pouco mais da rotina de cada um e os seus segredos quando pega o cartão de identidade dos defuntos ou CDs com registros em vídeo de alguma localidade da base. Esses cartões, juntamente com o PDA, também são necessários para abrir portas, armários ou acessar terminais que realizam uma determinada tarefa. É fundamental ficar de olho para não deixar de pegar algum desses cartões (são vermelhinhos) e acabar preso na fase sem saber para onde ir.

Se na história, o jogo segue um clichê (criado pelo próprio, aliás), é na parte gráfica que Doom 3 dá um passo adiante ao gênero FPS. O jogo, com certeza tem os melhores gráficos já vistos no PC. Tudo muito detalhado, desde os personagens, objetos, até os mínimos elementos como o brilho das telas dos computadores, ou a projeção das sombras sobre um determinado objeto. As texturas são incríveis, cada setor da base em Marte tem suas particularidades, e em seu caminho, você vai se deparar com grandes maquinários, linhas de montagem, laboratórios criogênicos, tudo muito vivo em mapas criativos, que também te levam à superfície do planeta vermelho, muito bem representada, diga-se de passagem.

A grandiosidade dos cenários e dos detalhes impressiona mesmo e faz jus à honra da série. Aliás, vale destacar uma fase em especial que me chamou muito a atenção: o inferno. Em 20 anos de jogatina, nunca vi a reprodução de um inferno tão impressionante e perturbador (no sentido de ser envolvente) como esse. Se você acha que o lar do capeta mostrado em Diablo já era brutal, espere só até se deparar com o clima pesado do inferno de Doom 3. Sem dúvidas, um show.

Os inimigos são bem variados e incluem desde velhos conhecidos, como os soldados zumbis, os “Imps” (aqueles demônios espinhudos que soltam bolas de fogo), ou as aranhas, até algumas novas aparições.

Para complementar o excelente visual, o novo Doom também utiliza o sistema de física revolucionário, usado pela primeira vez em Max Payne 2, que faz com que todos os objetos com os quais você possa interagir, reajam da maneira mais realista possível. Desta forma, você pode, por exemplo, jogar um barril escada abaixo, por exemplo, que ele irá cair girando até se chocar contra a parede no andar de baixo ou atropelar algum inimigo pelo caminho. Infelizmente, ao contrário do já citado Max Payne 2 ou Far Cry),são poucos os objetos com os quais você pode interagir aqui e a grande maioria é mesmo de barris, caixas ou cadeiras, mas esse detalhe não deixa de ser um charme a mais.

Sim, meus amigos, os gráficos são lindos, mas sofrem de dois problemas crônicos: em primeiro lugar, toda a ambientação é terrivelmente escura. Eu não estou brincando, você realmente precisa aumentar ao máximo o controle de gamma do jogo e ainda mandar ver no brilho do seu monitor para ver alguma coisinha. E mesmo assim Doom 3 continuará escuro. Tudo bem que os outros jogos da série também eram escuros e essa ambientação complementada por alguns sustos faz parte do histórico, mas aqui os programadores exageraram na dose e, às vezes, fica impossível visualizar uma escada, ou mesmo uma parede, sem ter de apelar para a fatídica lanterna e, com isso, ficar desprotegido. Infelizmente, em um jogo onde a rapidez dos reflexos e a precisão dos movimentos são fundamentais, esse é um ponto negativo que eu não poderia deixar passar em branco. Você vai concordar comigo quando estiver em corredores totalmente escuros e começar a levar tiros de espingarda 12 sem nem saber de onde afinal, todos os outros inimigos enxergam muito bem no escuro.

O segundo ponto negativo, aliás, já muito comentado antes mesmo do jogo ser lançado, são os seus requerimentos mínimos, pois Doom 3 é o famoso devorador de hardware. Para ilustrar bem essa situação, basta se pensar que ainda não existe placa de vídeo ou processador capazes de rodar o jogo em sua maior resolução. É mais ou menos o que aconteceu também com o Ultima IX. Quando este foi lançado há alguns anos, ele só rodava bem no computador da Bat-Caverna e nos computadores da NASA. Em meu computador, posso dizer que consegui um nível aceitável de qualidade rodando em 800X600, mas o jogo realmente exige um processador acima dos 2.0 Mhz, pelo menos 512 megas de Ram, e uma boa placa de vídeo (GeForce 3 para cima) para rodar satisfatoriamente. Se o seu computador não segue esses requerimentos, é melhor procurar outro jogo para não passar nervoso com lags infinitos, em especial nos gigantescos chefes.

A parte sonora de Doom 3 é muito boa e segue, também, a tradição. Os velhos jogadores irão reconhecer alguns sons reciclados dos dois primeiros jogos da série, como alguns grunhidos dos monstros, ou quando você encontra alguma parede falsa. Os gritos dos mortos, os pedidos de socorro, as paredes e portas arrebentando, tudo foi planejado para levar os jogadores a um clima de tensão e ansiedade sobre o que está por vir. Se você for uma pessoa de coração fraco nem passe perto deste jogo, pois os sustos são garantidos.

O barulho das armas (que aliás, também são as mesmas dos outros Doom com uma ou outra exceção) também é perfeito e cria uma sinfonia infernal nos momentos de maior ação. As músicas são até legais mas, infelizmente, só dão as caras em determinados momentos. Não é exatamente como em Painkiller, onde as músicas significavam a chegada dos inimigos, mas as fases não têm uma trilha sonora característica também.

A jogabilidade, eu não preciso nem comentar, é o velho estilo “WASD”, com a mira controlada pelo mouse e os números determinando as armas que você irá equipar. Você não irá encontrar muitas novidades nas fases: todas são repletas de inimigos, que cismam em aparecer por trás, com as famigeradas portas trancadas para você abrir e assim cumprir um determinado objetivo e avançar até o próximo nível. Essa rotina cansa um pouco nas fases mais avançadas, especialmente em uma seqüência chamada “Delta Labs”, onde os mapas são enormes e você tem que se concentrar muito para não acabar perdido nos dois sentidos. Mas fique tranqüilo que quando você começar a ficar de saco cheio, o jogo já estará perto do seu (belo) final.

Se você gosta de jogos estilo FPS e seu computador agüenta o tranco, é quase que uma obrigação jogar Doom 3, não só pelo que o jogo representa, com toda sua história e sua ambientação, mas também para perceber um pouco o que o gênero trará de novidades para os próximos anos, porque pode ter certeza que este jogo será muito copiado.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).